Quem sou eu

Irajá, Rio de Janeiro, Brazil
Estive deprimido nos últimos anos mas parece que acabou. Amanheci muito bem na segunda e continuei bem a semana toda. Percebi uma coisa muito importante. Percebi que sou livre. Estou no auge de minha forma física e mental e sou livre como nunca fui. Livre como talvez nunca vou ser. Mais livre do que a maioria das pessoas que conheço jamais será.

domingo, 25 de novembro de 2007

Estrela da Manhã

Era uma vez um reino. E era uma vez uma garotinha, nascida nesse reino em uma época distante, quando as mulheres ainda não eram consideradas totalmente... pessoas. No entanto, essa menina havia sido predestinada para brilhar. Estrela da Manhã era o seu nome.

A pequenina transformou-se em uma bela jovem, e certo dia colhia flores em um bosque quando notou alguma coisa que sobrevoava aquela região. Ao olhar para o alto, encantada reconheceu o personagem das histórias preferidas que ouvia de seus pais antes de dormir: um Domador de Pássaros montado em seu alado gigante, passando rápido, ofuscado pelo sol vespertino.

Estrela da Manhã passou a seguir as pistas dos Domadores de Pássaros que passavam por aquela região. Por ser insistente, um dia conseguiu fazer com que fosse levada num de seus passeios, realizando seu primeiro grande sonho de visitar o céu.

Um destes domadores, surpreso com a paixão da jovem pela arte de voar, prometeu à Estrela da Manhã que a ajudaria a tornar-se uma Domadora de Pássaros também. Escreveu uma carta a um de seus mentores recomendando-a, pouco antes de partir para sua última viagem.

Estrela vendeu tudo o que possuía e disse adeus aos pais. Deixando seu pequeno povoado, dirigiu-se a uma cidade imensa, onde seu instrutor recebeu-a para as primeiras aulas.

Dedicada, corajosa e persistente, ela aprendeu a dominar os Grandes Pássaros, e logo a notícia de que uma moça de apenas dezessete anos havia realizado esta proeza correu todo o reino.

As pessoas reuniam-se para vê-la planar sobre os campos verdes da região. Todos admiravam a jovem Estrela da Manhã.

O próprio Domador de Pássaros Número 1 soube de sua fama e a presenteou com um brasão encantado, para protegê-la em cada um de seus vôos. Estrela sentiu-se eternamente grata e jurou retribuir àquela grande honra.

Enquanto a maioria das mulheres realizava seus sonhos dourados ao se tornarem esposas e mães, Estrela da Manhã vivia uma paixão ardente com o infinito. Os anos se passaram e agora aquela mulher colecionava inúmeras façanhas. Já havia cruzado distâncias incríveis, atravessado reinos, ensinado a outros a arte que aprendera a dominar. Admirada por reis, monarcas e imperadores de nações próximas e longínquas, era convidada de honra nos banquetes e festas mais suntuosas. Seu prestígio foi suficiente para convencer o capitão da famosa Ordem de Cavalaria Cósmica a homenagear o Domador de Pássaros Número 1. Assim, o nome dele foi escrito com tinta brilhante e eterna na superfície da Lua, e Estrela finalmente devolveu-lhe a gentileza que a alentou durante todos aqueles anos.

Até mesmo pouco antes de completar um centenário de vida, ao contar suas peripécias aos mais moços, eles se encantavam ao perceber que a jovem brilhante e sonhadora continuava bem ali em suas frentes, não obstante do lado de fora vissem somente uma senhora vagarosa e frágil.

Embora toda história de aventuras precise de grandes derrotas e reerguidas para encantar aos olhos dos leitores, esta não contará com este artifício, pois a vida de Estrela da Manhã foi toda para as conquistas e vitórias, contrariando as expectativas mais otimistas que pudéssemos ter quanto a uma jovem, de um tempo distante, que quisesse aprender a voar.


***


Pareceu-lhe um autêntico Conto de Fadas? Note bem, não há nada de familiar nesta história um tanto imaginativa?

Pois é, tudo isso aconteceu de verdade, aqui no Brasil. Basta trocar palavras como reino por país, monarcas por presidentes, etc, e logo surgirá a história de uma das pioneiras da Aviação feminina no Brasil, Anésia Pinheiro Machado.

Nascida em 1904 na cidade de Itapetininga, deixou o interior de São Paulo para morar na capital onde, em 1921, iniciou seus primeiros estudos de aviação através do apoio do capitão João Busse, piloto da Força Policial do Paraná, que escreveu um bilhete recomendando a jovem ao tenente Reynaldo Gonçalves, aviador da Força Pública de São Paulo, pouco antes de sofrer um acidente fatal durante uma decolagem.

Com apenas dezessete anos, Anésia foi a primeira mulher a realizar um vôo-solo no Brasil. Em 1922, voou de São Paulo ao Rio de Janeiro em quatro dias, em homenagem ao Centenário da Independência, tornando-se a primeira brasileira a realizar um vôo interestadual. Nesta ocasião recebeu muitas homenagens, em especial a que lhe foi prestada por Santos Dumont, que juntamente com uma carta de felicitações, presenteou-a com uma réplica da medalha que ele próprio havia recebido das mãos de Princesa Isabel.

Anésia também foi a primeira aviadora brasileira a realizar em 1951 um vôo transcontinental, ligando as três Américas, e também a que cruzou a Cordilheira dos Andes em avião monomotor, pelo Passo do Aconcágua.

Em 1973, Ano do Centenário do Pai da Aviação, pôde homenagear este grande brasileiro nos Estados Unidos, quando por sua sugestão o Comitê Internacional de Nomenclatura Astronômica deu o nome de Santos Dumont a uma cratera na Lua.

Pouco antes de falecer aos 95 anos, lúcida como em sua juventude, Anésia afirmou: “Tive a vida mais feliz que alguém poderia ter”.

Na minha opinião a história dela, que conheci há pouco tempo assistindo a um documentário na TV Cultura, é a prova de que o esforço e a determinação são meios eficientes para se transformar sonhos em realidade. Até mesmo se eles forem fantasiosos como os contos de fadas...

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Fontes para consulta:

Página de Personalidades do Comando da Aeronáutica

Página organizada por Alex Pinheiro Machado Rodrigues
Obs: Nesta página o ano de nascimento de Anésia aparece como 1902, e nos demais materiais consultados, 1904, portanto, adotamos este último).

Documentário: "Anésia, Um Vôo no Tempo" (Ano 2000, Direção de Ludmila Ferolla. Duração: 73 min.)



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