Quem sou eu

Irajá, Rio de Janeiro, Brazil
Estive deprimido nos últimos anos mas parece que acabou. Amanheci muito bem na segunda e continuei bem a semana toda. Percebi uma coisa muito importante. Percebi que sou livre. Estou no auge de minha forma física e mental e sou livre como nunca fui. Livre como talvez nunca vou ser. Mais livre do que a maioria das pessoas que conheço jamais será.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Content Face – A Cara de Conteúdo na Sociedade Moderna

Há alguns anos um grande Jornal de São Paulo lançou uma campanha publicitária dizendo que quem não lia o periódico em questão vivia fazendo a tal Cara de Conteúdo. Essa campanha, além de alavancar as vendas do jornal, despertou o interesse dos cientistas e sociólogos para o Fenômeno da Cara de Conteúdo.

Segue trecho extraído de artigo publicado na revista científica “Scientific, What?” (1):

Analisando o Fenômeno, podemos citar dois tipos de Cara de Conteúdo (os Sociólogos chamaram o fenômeno de “Content Face” para dar um ar mais chique na coisa – afinal, em inglês o pessoal respeita mais): a “Content Face Falante” e a “Content Face Silenciosa”.


“Content Face Falante”

Imagine a cena: Empresa multinacional, Gerente com muitos anos de experiência, entrevista final para emprego e engenheiro recém-formado. Já dá para ver que mesmo na sala de espera o gajo está tão tenso que até o ar ao seu redor pára de se mover. Durante a entrevista tudo ocorre relativamente bem, até que o Gerente começa a falar sobre a situação da crise social e política que ocorre no Turcomenistão (2) devido à Guerra no Iraque e à Invasão da Favela Para Pedro.

Pronto, o rapaz fica branco até o último fio de cabelo, pois sabe que aquilo é mais um teste que está sendo aplicado. O Gerente quer na verdade saber como ele se sai numa situação como esta, pois até cinco minutos atrás provavelmente nem sabia dessa crise, nem da existência de um país chamado Turcomenistão e de uma Favela chamada Para Pedro.

Involuntariamente, a “Content Face” começaria a entrar em ação, como um mecanismo de autodefesa do indivíduo. O entrevistado cruzaria uma perna sobre a outra, apoiaria o cotovelo esquerdo sobre o braço da cadeira ou na beirada da mesa e seguraria a cabeça com a mão formando um “L” entre o polegar e o indicador.

Neste momento é claro que ele não sabe o que falar, mas fazendo esta expressão séria com o corpo todo, discorreria um pouco sobre a política externa estadunidense e sobre como o Governo do Estado do rio de Janeiro deveria agir , cuja irresponsabilidade poderia abalar toda a região.

Pronto, uma resposta vaga aliada a uma Cara de Conteúdo, digo “Content Face”, e o entrevistado deu um jeito.


“Content Face Silenciosa”

Mas não podemos deixar de lado os casos onde a “Content Face” é aplicada junto de um silêncio completo. É possível que a modalidade Silenciosa seja ate mais importante do que a Falante, pois a encontramos aplicada às mais diversas situações:

Livrarias: por incrível que pareça, esse ambiente propício ao desenvolvimento do conhecimento está infestado de pessoas que simplesmente não sabem nada sobre qualquer coisa e precisam aplicar a “Content Face” com grande freqüência. Normalmente são os próprios vendedores que param para escutar os pedidos mais estranhos e passam todo o tempo a concordar como se soubessem do que se trata. Quando você para de falar eles correm para o terminal de pesquisa para tentarem encontrar a resposta...

Encontros românticos: o rapaz está muito interessado na garota que finalmente concordou em sair com ele. Nos idos do encontro a conversa descamba para os acontecimentos da última novela das oito. Pronto, toca aplicar a cara de conteúdo para fingir que sabe tudo sobre todos os personagens, até o momento em que a aproximação finalmente permite um beijo salvador!

Consultas médicas: infelizmente a “Content Face Silenciosa” tem sido muito presenciada em consultas do sistema público de saúde. Enquanto o paciente discorre sobre o problema, a “Content Face” é aplicada pelo médico que, ao final da consulta, decreta: ANTIBIÓTICO! Não importando o problema, é claro.

Salas de aula: O professor pergunta: “Alguma dúvida, classe?”; e o silêncio impera, com toda uma turma praticando o mesmo gesto. Seria a “Content Face” contagiosa?

Reuniões no trabalho: O chato-mor do escritório começa a discorrer horas a fio sobre um tema. A única forma de sobreviver a isso é a aplicação da “Content Face” enquanto ele fala e os ouvintes podem ficar pensando nos seus planos para o final de semana. Dizem por aí que os executivos transmitem a técnica para amigos de confiança e guardam grande sigilo sobre o assunto.

Provas: Essa é clássica. Chegamos a presenciar uma sala de engenharia com quase oitenta indivíduos praticando a “Content Face”. Isso normalmente ocorre quando a prova está impossível e o professor olha para alguém, pois é bom que pense que esse alguém sabe tudo, senão o mesmo será perseguido durante toda a prova, atrapalhando qualquer possibilidade de “cola”.

***

Após essa explanação, todos podem identificar o fenômeno e perceberam a gravidade do assunto. Além das facetas descritas acima, já sabemos da existência de inúmeras outras que assolam a população mundial.

A pesquisa ainda está em seu estágio inicial, mas já alarma os especialistas. O próximo passo é o estudo detalhado, em voluntários (8), dos efeitos do “Content Face” a curto e longo prazo na sociedade e nos indivíduos, tanto no aspecto psicológico quanto no físico, uma vez que cada vez mais pessoas apresentam uma estranha atrofia dos músculos do polegar e do indicador.

Num futuro, que esperamos ser bem próximo, mais será publicado sobre o tema e poderemos desenvolver tratamentos eficazes para o fenômeno do “Contet Face”.

Graças a esses esforços já podemos vislumbrar um mundo sem Cara de Conteúdo!

Turcomenistão, Dezembro de 2007.

Obs.:

(1) Scientific, What? é uma respeitada revista científica de circulação mundial mas que infelizmente ainda não é publicada no Brasil nem na Europa, Ásia, América do Norte e Oceania.

(2) Turcomenistão é um país do Oriente Médio com área menor que a Favela Para Pedro no Rio de Janeiro.

(3) Voluntários gentilmente cedidos por Prisões Russas, Brasileiras, Americanas (situadas no Iraque, é claro), e o "Buteco" Padrinho's Bar.


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