Quem sou eu

Irajá, Rio de Janeiro, Brazil
Estive deprimido nos últimos anos mas parece que acabou. Amanheci muito bem na segunda e continuei bem a semana toda. Percebi uma coisa muito importante. Percebi que sou livre. Estou no auge de minha forma física e mental e sou livre como nunca fui. Livre como talvez nunca vou ser. Mais livre do que a maioria das pessoas que conheço jamais será.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Crônica às Estátuas

Houve um tempo em que as estátuas estavam absolutamente mudas, sim, elas não expressavam mais nada além de uma posição etérea, comprometida com o tempo, espaço, com a memória e com o estar-no-mundo estáticas – como seu próprio nome sugere. As estátuas sempre prezaram por ficar ali, paradas, frias e mudas – sem força, hemos de convir – aparentando uma força de contemplação e verdade que só os deuses do Olimpo poderiam ter. Um dia, os artesãos decidiram dizer não pra toda essa chateação de estátua parada, sem força, sem fio, sem fé, sem posição nenhuma além daquela posição tão etérea e comprometida com o tempo e o espaço. Foi algo quase de inconsciente coletivo (pra lembrar Seu Young), decidiram então, lá pelo século XVIII desenhar e formar esculturas que pudessem expressar, além da beleza e da idéia de sublimação (aquele processo em que sólidos viram gás num passe de mágica que dura semanas, anos, milênios, gritos, dores, descontentamento) – elas ganharam movimentos. Movimentos contíguos aos da humanidade – deixaram de participar de uma transformação condicionada de sólido em ar e passaram a estar cada vez mais fundidas à terra. Muitas estátuas se perderam: por onde anda, por exemplo, aquela que mostrava a glória de D. Sebastião ou de Duque de Caxias ou de D. Pedro ou de D. Quixote ou de Zeus ou de um monte de mentiras sobre as quais a humanidade montou como estão todas as estátuas: montadas sobre cavalos e cavalgam pela história. Ontem, uma menina mordeu um bolinho mordido – virou estátua num lixão aqui perto das casas; virou urubu – lá onde se fundem e sublimam os lixos e os restos que vão pelos ares da cidade. A menina que mordeu um bolinho mordido se chama Estátua - ela diz todo dia que a vida não tem mais nada que fazer comer e trabalhar Estátua não trabalha Estátua não vive Estátua não sai do chão em que está fundida Estátua não come nunca comida que os seres humanos devem comer. E junto de outros e outros monumentos do seu tempo, estátuas que brincam em meio a tantas casas que não são as suas Estátuas que não entendem o que vêm fazer na esquina em que são contempladas todos os dias e as janelas dos carros riem se riem por não poderem tirar da arte o grotesco - o concreto é sempre definitivo.

ﮒﻷŖэņęģắđởﻷﮓ

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