Quem sou eu

Irajá, Rio de Janeiro, Brazil
Estive deprimido nos últimos anos mas parece que acabou. Amanheci muito bem na segunda e continuei bem a semana toda. Percebi uma coisa muito importante. Percebi que sou livre. Estou no auge de minha forma física e mental e sou livre como nunca fui. Livre como talvez nunca vou ser. Mais livre do que a maioria das pessoas que conheço jamais será.

sábado, 1 de março de 2008

Charlton Heston versus Ben-Hur

Estamos no início do século I, em Jerusalém. O jovem e rico judeu de família nobre, Judah Ben-Hur, não aceita a exploração de seu povo pelo Império Romano, e por defender esta convicção é traído pelo amigo de infância Messala, agora chefe das legiões romanas na cidade, que o leva a ser condenado por um crime do qual é inocente. Inicia-se aí a saga do herói do filme de 1959, "Ben-Hur", baseado no livro de Lew Wallace e vencedor de 11 Oscars, meu longa-metragem preferido por dezenas de motivos, dentre eles a música, o Tecnicolor, as atuações, os cenários, as grandes tomadas, as lembranças que me traz.
Charlton Heston interpretou Judah Ben-Hur e por isso é também o meu ator favorito. Entretanto, assistindo a outro filme – Tiros em Columbine –, um documentário do diretor Michael Moore realizado em 2002, conheci uma faceta dele que até então não sabia existir.
O ator hoje tem cerca de 80 anos e sofre do Mal de Alzheimer. Não foi fácil ver o forte e belo Judah curvado, de cabelos brancos, vagaroso e trêmulo, os olhos outrora tão azuis e límpidos agora levemente turvos. Mas foi ainda mais difícil perceber que nem em suas palavras ele parecia-se com o justo, honesto e valoroso Ben-Hur.
Presidente da Associação Americana do Rifle, Charlton Heston fez afirmações que aparentaram estarem repletas de racismo durante a entrevista concedida a Moore sobre o uso de armas nos EUA, que jamais imaginei pudessem sair da boca de quem vivenciou com tanta maestria no cinema o sofrimento causado pela discriminação, não somente em Ben-Hur mas também no filme Planeta dos Macacos, como o protagonista Coronel George Taylor. Quando ouvi aquelas declarações, pensei: “Como alguém que me fez refletir tanto sobre a ignorância e a brutalidade humanas, que me comoveu e me levou às lágrimas pôde demonstrar a intolerância que ele demonstrou?”.
Evidentemente não sou passional a ponto de seguir o raciocínio inverso e odiar os atores que costumam interpretar malvados. Mas penso que, embora não tendo vivido efetivamente determinadas situações na vida real, a experiência de tê-las encenado na arte seja suficiente para o ator sentir-se no lugar dos indivíduos que vivem aquela realidade, passando a compreendê-los melhor, e aprendendo alguma coisa com as ações do personagem a que ele próprio deu vida.
Não sei em até que ponto a entrevista foi editada, afinal Michael Moore às vezes parece um desses repórteres sensacionalistas que manipulam pessoas e fatos para comprovar suas opiniões, embora elas sejam legítimas. De qualquer maneira, é possível que ele tivesse pressionado Heston, mas não que tivesse alterado os comentários que o próprio fez em alto e bom som.
Contudo, da mesma forma como não poderia ter julgado a índole do ator pelos papéis que ele representou, a verdade é que também não posso condená-lo por uma mera entrevista e nem pelo que a mídia mostra e afirma sobre ele. Por esta razão, não vou concluir dizendo que Charlton Heston é um vilão na vida real que interpreta mocinhos no cinema, nem um homem sensível que expressa seus sentimentos na arte e faz pose de durão na vida social, pois simplesmente não posso provar nenhuma das duas afirmações.
E para o leitor que não está interessado nem um pouco neste assunto tão específico mas acompanhou fielmente o texto até aqui, espero que a leitura tenha servido ao menos para deixá-lo curioso em assistir algum dos filmes citados, se é que ainda não os conhece: "Tiros em Columbine", "O Planeta dos Macacos" e o inesquecível "Ben-Hur”.
* Entre dezenas de sites que criticam Charlton Heston com base na imagem forjada pelo documentário "Tiros em Columbine", acabo de encontrar a página Bowling For Truth, que faz uma série de acusações à forma parcial como os fatos são mostrados nos filmes de Michael Moore, e onde existe um link específico para o caso da entrevista com Heston. Sem entrar no mérito de quem está certo e quem está errado, o fato é que cada vez mais chego à conclusão de que nossas opiniões sobre assuntos como estes serão sempre parciais, já que baseadas somente na parte da história que a mídia nos revelou.
Esse sim, daria um ótimo vereador...


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